É impossível não relacionar a decadência moral do
Império Romano à fragilidade dos costumes apregoados pela modernidade
Olhar
para alguns capítulos mais distantes da história pode ser ocasião para grandes
aprendizados: a lição dos heróis e dos gigantes de outros tempos pode
indicar-nos a direção a trilhar enquanto, por outro lado, as imprevisões e
erros antigos aconselham ao homem moderno qual caminho não tomar.
A história da Roma Antiga tem suas páginas memoráveis – e isto
comprovam tanto os belos monumentos artísticos produzidos na época quanto as
importantes obras arquitetônicas que uniam um extremo ao outro do Império. O
próprio ambiente de pax romana que
surgiu ao alvorecer do primeiro milênio foi o que possibilitou aos habitantes
da Cidade Eterna granjear relativa estabilidade e tranquilidade, além de
presenciar a expansão da religião cristã, cuja semente só caiu em terreno
fértil porque aquela era, no dizer de São Paulo, "a plenitude dos
tempos" (Gl 4, 4).
Ao
mesmo tempo, porém, à narrativa de alguns costumes decadentes no Império Romano
é impossível não relacionar a fragilidade moral dos tempos atuais. Enquanto
Jesus nascia, em Belém, na Palestina, o ambiente que o circundava era repleto
das mais terríveis maldades, práticas que, infelizmente, o homem contemporâneo
tem descido para recuperar, precipitando a civilização em uma nova – e mais
devastadora – ruína.
E as semelhanças não são poucas, a começar pela excessiva
intervenção do Estado na vida dos indivíduos. O historiador francês Daniel-Rops
avalia: "Em todos os tempos e países, a substituição das tendências
naturais do homem pela vontade do Estado é sempre um indício de decadência. Um
povo está muito doente quando, para viver honestamente e ter filhos, necessita
de prêmios ou de regulamentos".
Em
Roma, "uma massa popular mais ou menos ociosa, formada por camponeses
desenraizados, trabalhadores autônomos agora privados de trabalho, escravos
libertos e estrangeiros cosmopolitas" formou um terreno fértil para o
parasitismo estatal:
"O antigo romano, tão sólido no seu trabalho,
torna-se o 'cliente', o parasita, a quem a 'espórtula' remunera uma fidelidade
suspeita. Os imperadores têm de contar com esta plebe lamentável e por isso a
rodeiam de atenções. Mas um
povo não se habitua à mendicidade e à preguiça sem que a sua alma seja
atingida. Em
breve a covardia e a crueldade andarão de mãos dadas com o vício, e o vício,
como diz a sabedoria popular, é a mãe de todos os males. Já não há quem queira
combater nas fronteiras, como não há quem queira trabalhar a terra. E assim
aquela imensa multidão, para se distrair, irá procurar nos jogos do circo os prazeres
que acabam por degradar a sensibilidade humana."
Muitos dos nossos
contemporâneos têm substituído a livre iniciativa, os seus próprios sonhos e
projetos, para viver à custa do Estado, granjeando benefícios sem passar pelo
fardo duro do trabalho; têm
preferido a medíocre política panem et circenses a uma vida de batalha diária
na família, no trabalho ou nos estudos - uma vida de sacrifícios, sim, mas de
muito maior e mais nobre valor moral.
Ao
lado desta dependência lamentável do Estado, é crescente o drama de uma
sociedade estéril. Vários países europeus, para conter o "inverno
demográfico", veem-se obrigados a dar incentivos à sua população para que
ela queira ter filhos. O antinatalismo hoje reinante na Europa é, pouco a
pouco, exportado para os países subdesenvolvidos, fazendo com que as famílias
diminuam o número de seus filhos aos limites de seu egoísmo. Há até um lobby a
nível mundial comprometido com a redução em massa da população do planeta.
Este lobby, pesadamente financiado por grandes organizações
internacionais, não se contenta em distribuir à população os instrumentos para
a contracepção artificial, transformando o sexo em um "parque das
diversões", como também procura implantar, em todo o mundo, o chamado
"aborto livre e seguro". Como causa e consequência disto está o grande número de mulheres
que procuram clínicas para assassinar seus próprios filhos.
Qualquer semelhança com o decadente Império Romano não é mera
coincidência. "Uma inscrição do tempo de Trajano dá-nos a conhecer que, de
cento e oitenta e um recém-nascidos, cento e setenta e nove são legítimos, e
destes, apenas trinta e cinco são meninas, o que prova suficientemente a
facilidade com que as pessoas se desembaraçavam das meninas e dos filhos
naturais."
Ao fundo de tudo isto, estava a cegueira de um povo que,
ludibriado pelas benesses estatais, divinizava seu imperador. "O culto
imperial não cessará de crescer ao longo dos dois primeiros séculos. Todos os
sucessivos senhores do Império o estimularão (...) por verem nele, em última
análise, uma forma de lealismo e a expressão visível da dedicação dos súditos
ao seu senhor"
Se é verdade que o culto a personalidades políticas é bem evidente
em países que sofreram com a dominação socialista, todavia o que mais se
assemelha à pretensão romana de uma religião universal é, sem dúvida, o projeto
globalista new age. Em uma das conferências do Milênio promovidas pela ONU, em 2000,
organizou-se uma coalisão chamada United Religions Initiative ["Iniciativa das Religiões
Unidas"], cujo propósito é nada menos que "superar as religiões
dogmáticas", rumo à ereção de uma nova religião universal.
É
claro que esta pretensão internacionalista não pode conviver pacificamente com
a religião cristã, essencialmente dogmática, assim como a comunidade dos
primeiros seguidores de nosso Senhor representava um verdadeiro insulto ao
culto ao Imperador. Novamente, o poder maligno da Besta, narrado no Apocalipse
de São João, manifesta-se em toda a sua impiedade e malvadeza. Nunca se viu
tanto esforço para emular a decadência de um Império.
Por Equipe
Christo Nihil Praeponere
Comentários
Leia antes de comentar:
Os comentários deste blog são todos moderados;
Escreva apenas o que for referente ao tema;
Ofensas pessoais ou spam não serão aceitos;
Obrigado por sua visita e volte sempre.