História da RCC

História da Renovação Carismática Católica


A Renovação Carismática Católica teve início em fevereiro de 1967, em Pittsburgh, região nordeste dos Estados Unidos, quando um grupo de professores e alunos da Universidade de Duquesne, reuniu-se em retiro num final de semana recebendo orações de pastores protestantes. Esse grupo havia sido motivado pela leitura de inúmeros livros pentecostais protestantes sobre os carismas. Eles chegaram à conclusão de que os carismas narrados na Sagrada Escritura não eram, na verdade, fenômenos passados, mas sim, realidades atuais.

Durante o retiro, de acordo com os relatos, houve a chamada efusão do Espírito Santo, com a manifestação de diversos carismas, dentre eles palavras de profecia, ciência, grande consolação espiritual e o mais comum, a glossolalia ou oração em línguas.

Após esse evento, a RCC cresceu de um forma dificilmente explicada pela ação humana. Em pouco tempo espalhou-se pelo mundo todo, isso é inegável. E é importante frisar que o contexto mundial naquela época não era dos melhores. O mundo estava sendo varrido pela revolta, secularismo, rebelião; as igrejas sendo esvaziadas; as grandes revoluções (Wodstoock, Estudantil, Hippie, Sexual) estavam acontecendo. O mundo estava de cabeça para baixo!

A RCC surgiu e espalhou-se pelo mundo todo, entretanto, não é salutar esquecer que ela foi originada de uma heresia pentecostalista protestante. Como foi, então, que ela configurou-se à Igreja de Cristo? Em 1975 foi promovido o III Congresso Internacional da Renovação Carismática Católica, na Cidade Eterna e essas foram as palavras do Papa Paulo VI. Elas devem ser a chave de leitura para o estudo em andamento:
Este ano Santo haveis escolhido a cidade de Roma para celebrar vosso VIII Congresso Internacional, amados filhos e queridas filhas. Foi-nos pedido que nos encontrássemos hoje convosco e que vos dirigíssemos a palavra: desta forma quisestes manifestar vossa adesão à Igreja instituída por Jesus Cristo e a tudo o que para vós representa esta sede de Pedro. Este interesse em vos situar dentro da Igreja é sinal autêntico da ação do Espírito Santo. Pois Deus se fez homem em Jesus Cristo, cujo corpo místico é a Igreja, na qual foi comunicado o Espírito de Cristo no dia de Pentecostes, quando desceu sobre os Apóstolos reunidos no "andar de cima", "perseverando unânimes na oração", "com Maria, a mãe de Jesus" Observa-se, portanto, que era desejo da RCC inserir-se no Corpo Místico de Cristo, pertencer à Igreja de Cristo. Mais que isso, o desejo de ser reconhecido pelo Magistério é sinal claro da ação do Espírito Santo e do repúdio à heresia originária. O Papa Paulo VI expondo tão claramente esse desejo da RCC de buscar um lugar eclesial, administra o remédio de catolicidade necessário para a aceitação do movimento.

É preciso recordar, porém, que houve um estranhamento entre o clero e o movimento carismático nascente. O embate foi motivado talvez pelo ceticismo racionalista tão presente no clero - naqueles e até nos dias atuais - e, por outro lado, causado por uma renovação carismática tomada por uma credulidade cega. Dois extremos que precisavam de um equilíbrio, conforme disse o então cardeal Joseph Ratzinger no Documento de Malinas, já citado.

O Papa Paulo VI, naquele mesmo discurso pergunta: 'como não interpretar que esta renovação espiritual seja uma verdadeira oportunidade para a Igreja e para o mundo? E como, neste caso nós não tomaríamos providências para que isto continuasse assim?' Ou seja, a Igreja que estava apanhando por todos os lados, alvo da guerra cultural e da mentalidade revolucionária, de repente recebe um sopro de ar fresco, uma renovação no ardor espiritual. O Papa, utilizando o seu discernimento magisterial percebe o que está acontecendo e não permite que a graça passe despercebida. Vê nesse momento um kairós, um tempo favorável para a Igreja e aplica ao novo movimento um batismo católico.

A Renovação amadureceu e descobriu as riquezas da Igreja Católica, como a adoração ao Santíssimo, a Eucaristia, a fé eucarística, a récita do Santo Rosário, a oração pessoal e em grupo, a obediência ao Papa e ao Magistério da Igreja. O católico carismático tem como identidade a Bíblia e o terço na mão.

A Tradição ensina, porém, que um carisma não tem a segurança da infalibilidade, portanto, precisa ser provado. E, da mesma forma, que não existe santidade infalível. Assim, é preciso que os dons extraordinários sejam cultivados por pessoas que tenham características específicas, ou seja, os indivíduos que recebem carismas devem guardar:

1. Uma pureza de fé (estudando o catecismo, a doutrina, a vida dos santos)
2. Luta contra a soberba, o orgulho (saber que os dons carismáticos são presentes de Deus e não merecimento)
3. O combate ao emocionalismo (este é um sinal claro de infantilidade espiritual e pode se transformar em egocentrismo)
4. Combate do antropocentrismo (colocar o homem no lugar de Deus)

Ainda sobre os carismas, Santo Tomás de Aquino ensina que nem todos os carismas extraordinários são uma ação direta de Deus, mas que Ele pode agir por meio dos anjos, assim, quando um carisma pode ser exercido por mediação angélica, ele pode ser também macaqueado (adulterado) pelo demônio. O que enseja, obviamente, um cuidado extremado.

História da Renovação Carismática Católica no Brasil

No início da Renovação Carismática aqui no Brasil, por volta de 1970, ela se caracterizava por pequenos grupos que se reuniam para louvar e orar a Deus. A oração era espontânea, com um coordenador que organizava as temáticas (perdão, louvor etc.), mas não era alguém que conduzia as orações. Os carismas manifestavam-se como consequência de uma vida dedicada à oração, da gratuidade do louvor a Deus.

A Igreja Católica no Brasil vivia um momento muito delicado, pois a Teologia da Libertação e Leonardo Boff haviam sido condenados pelas instruções da Congregação para a Doutrina da Fé. A RCC, por sua vez, era um fenômeno insipiente, também perseguido, inclusive, em muitos locais nem sala tinha para as reuniões.

Dez anos depois o cenário havia mudado completamente. As reuniões já aconteciam dentro do Templo; os chamados grupos de oração já tinham uma estrutura maior, com uma pessoa ao microfone conduzindo as orações. Na década de 90, a RCC cresceu de forma desordenada (inchou) e produziu um fenômeno semelhante aquele da segunda onda do pentecostalismo, ou seja, as pessoas procuravam os grupos de oração não tanto pelo Deus dos dons, mas sim, pelos dons de Deus. Havia uma sede de milagres e de prodígios, mas não houve a correspondente força da conversão.

A conversão pessoal ficou em segundo plano, na medida em que as pessoas afluíam para os grupos de oração em busca dos milagres e prodígios, sem contudo, buscar a santidade. Esse fenômeno fez com que surgissem no Brasil inúmeras comunidades por todo o Brasil formadas justamente pelos integrantes dos grupos de oração que buscavam a santidade de vida. Uma das comunidades surgidas foi a Comunidade Canção Nova, calcada no discurso do hoje Monsenhor Jonas Abib: 'ou santos ou nada'.

Atualmente a Renovação Carismática Católica no Brasil vive um movimento contrário, pois ela está num movimento de descida, perdendo a quantidade de pessoas, num processo de purificação. A tendência é estabilizar e permanecer nela somente aqueles que realmente desejam a santidade, a oração e estar em comunhão com o que a Igreja prega.

Ao longo desses trinta anos, a RCC viveu também a três ondas do pentecostalismo, porém, a terceira não fez muito sucesso. O movimento em si não aceitou a teologia da prosperidade, mas, alguns pregadores, de forma individual sim. Infelizmente, a RCC foi vítima de tentações espirituais (dinheiro, poder etc.) e o caminho natural é a purificação.

A Renovação Carismática Católica costuma identificar-se como sendo um fruto do Concílio Vaticano II, é preciso, então, saber o que o CVII diz acerca dos carismas:

Além disso, este mesmo Espírito Santo não só santifica e conduz o Povo de Deus por meio dos sacramentos e ministérios e o adorna com virtudes, mas «distribuindo a cada um os seus dons como lhe apraz» (1 Cor. 12,11), distribui também graças especiais entre os fiéis de todas as classes, as quais os tornam aptos e dispostos a tomar diversas obras e encargos, proveitosos para a renovação e cada vez mais ampla edificação da Igreja, segundo aquelas palavras: ; «a cada qual se concede a manifestação do Espírito em ordem ao bem comum» (1 Cor. 12,7). Estes carismas, quer sejam os mais elevados, quer também os mais simples e comuns, devem ser recebidos com acção de graças e consolação, por serem muito acomodados e úteis às necessidades da Igreja. Não se devem porém, pedir temerariamente, os dons extraordinários nem deles se devem esperar com presunção os frutos das obras apostólicas; e o juízo acerca da sua autenticidade e recto uso, pertence àqueles que presidem na Igreja e aos quais compete de modo especial não extinguir o Espírito mas julgar tudo e conservar o que é bom (cfr. 1 Tess. 5, 12. 19-21). (Lumen Gentium, 12)

Na história recente da RCC percebe-se que o divino e o humano, a graça e o pecado caminham lado a lado. Não é possível condenar totalmente a RCC como se nada tivesse serventia e, da mesma forma, não é possível canonizá-la aceitando tudo que propõe, como se santo fosse. Com amor, é preciso aceitar que existem os dons carismáticos e, a partir da Tradição da Igreja e da orientação do Magistério, discernir aquele que o seu uso adequado.

Fonte: Padrepauloricardo.org 

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